Wednesday, October 3, 2007

Ensino não tão superior assim...


Domingão de manhã pego o Estadão para leitura relax do caderno Aliás e de cara para o meu desprazer já me deparo com a seguinte notícia: Péssimo desempenho de alguns cursos de Direito contrapõe o Brasil do mero diploma e o Brasil da pesquisa séria.

O artigo começa: ...Volta e meia o Brasil fácil bate o Brasil sério, emerge dos subterrâneos do faz de conta e ganha o interesse da opinião pública. O ufanismo do Brasil ignorante, oportunista, populista e fisiológico sobrepõe-se com freqüência ao Brasil culto, sério, responsável e democrático. O Brasil do mero diploma, do rótulo, desafia o Brasil do conhecimento e da ciência, do estudo incansável, da pesquisa séria. Ocupa-lhe os espaços, disputa-lhe os recursos, sob o pretexto discutível da universidade para todos, um Fome Zero da educação de terceiro grau.

Nestes dias ganhou notoriedade a divulgação dos resultados do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade), pelo Ministério da Educação, relativos aos cursos de Direito. Tiveram notas 1 e 2, numa escala em que a nota máxima é 5, 89 cursos, num total de 510 (17,5%), considerados ruins pelo MEC. Eles representam mais de 61 mil vagas no ensino de Direito no País. Conseguiram aprovar menos de 10% de seus inscritos, conforme destaca reportagem de Lisandra Paraguassú. Desses 89 cursos, 37 foram reprovados também no exame nacional da Ordem dos Advogados do Brasil e a eles correspondem mais de 38 mil vagas. Defensores dos interesses desse ensino superior, estigmatizado por seus próprios melancólicos resultados, argumentam que a uma empresa é melhor ter um funcionário bacharel do que um funcionário analfabeto. Como se o enfeite do mero diploma suprisse o conhecimento tão necessário nas profissões.

O artigo se extende mais e quem tiver interesse pode ler no http://www.estado.com.br/suplementos/ali/2007/09/30/ali-1.93.19.20070930.7.1.xml, mas o fato é que no Brasil, somos 180 milhões de habitantes com cerca de 650 mil advogados. Num país como o Japão são 143 milhões de habitantes para apenas 14 mil advogados. Desconfio que essa overdose de diplomas de advogados em nossas paredes em nada favorece o Brasil.

Apesar desses fatos serem de conhecimento geral, me pergunto porque os jovens estudantes, mesmo sabendo que estão investindo mal seus recursos e seu tempo em cursos de péssima reputação e das imensas dificuldades que vão enfrentar quando ingressarem no mercado de trabalho, ainda assim continuam fazendo a alegria de milhares de universidades picaretas - aumentando a cada ano que passa o número de inscritos nesses cursos de direito que pipocam por todo lado.

Será por falta de opção? Por modismo? Difícil de acreditar. Acredito que a resposta esteja mais para o imediatismo e visão de curto prazo da crescente massa de jovens que sonham em galgar um cargo público e todas as inegáveis "mamatas" inerentes à posição. Só esquecem de considerar a sustentabilidade do seu sonho. O Estado pode crescer muito (ainda mais se o Lula continuar ajudando) mas dificilmente vai acompanhar o ritmo estonteante com que estas fábricas de diplomas despejam formandos em direito no mercado.

Enquanto isso o Japão vai bem obrigado - fazendo direito.

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